Depoimento: o que eu ganho sendo voluntário?

Voluntários doando amor

 

Filho, pare de trabalhar de graça nesses projetos! O que você ganha com isso?

 

Após ouvir essa pergunta algumas vezes, resolvi parar para pensar na resposta; ao chegar a uma conclusão, conversei longamente com minha mãe e ela concordou, “realmente vale a pena”. De lá para cá algum tempo se passou, mas ainda acredito que vale a pena; buscarei explicar o porquê disso nas breves linhas abaixo e espero que isso te ajude, seja na busca de suas próprias respostas, seja na conversa que terá com sua mãe explicando a razão de gastar 9856847 horas sendo voluntário 😉

 

1) Aprender fazendo

 

Tive contato com o trabalho voluntário desde o início da graduação; logo que entrei no curso de direito da Universidade Federal de Santa Catarina, tive a oportunidade também de integrar a Comissão do Acadêmico de Direito da Ordem dos Advogados do Brasil e assumir papel ativo na organização de um congresso para mais de 1000 pessoas.

O trabalho voluntário via de regra te coloca em contato com a prática e não raro proporciona experiências de imersão em determinada função. Ele acelera o aprendizado de maneira impressionante e o faz de uma forma que a pessoa não esquece; essa ideia é confirmada por Montessori, Freinet e Dewey, bem como provada todos os dias em determinadas instituições que a aplicam na prática.

Os leitores já devem ter usado a frase “tal coisa é como andar de bicicleta, você nunca esquece”; pois então, desconheço best sellers sobre “como andar de bicicleta” – é algo atrelado à prática e as pessoas sabem disso. O trabalho voluntário segue a mesma lógica.

 

2) Ajuda desinteressada

 

Há alguns anos li os livros d’As crônicas de gelo e fogo (cujo primeiro volume é Game of Thrones). Em certo momento da história aparece um mercenário chamado Bronn; em certa altura ele invariavelmente muda de posição tendo em vista as vantagens que pode obter e boa parte dos leitores o encara com certa desconfiança e desconforto em razão disso.

No dia-dia algo similar ocorre diante de pessoas 100% movidas pela vontade de “crescer na vida”. Os clientes sentem isso, os recrutadores, também assim como os stakeholders (partes envolvidas) de qualquer empreendimento.

Ao apresentar uma experiência com trabalho voluntário, você dá um indício forte de que possui um pouco de “coração” e de preocupação com algo além dos próprios interesses. Não raro, entre alguém de atuação mais virtuosa e alguém com desenvolvimento técnico, porém que segue a Lei de Gérson, a virtude desempata a disputa – como fez em certa ocasião na qual o empresário Roberto Justus entrevistou e selecionou uma profissional para trabalhar em seu programa.

No mundo dos indicadores e metas, ter trabalhado voluntariamente é indicador de propensão à (i) empatia e (ii) internalização de um propósito.

 

3) O encontro com o propósito

 

Suddenly I see / This is what I wanna be / Suddenly I see / Why the hell it means so much to me

Como diz a música de KT Tunstall, ficamos sem ar no momento em que “de repente” descobrimos nosso propósito. Em meu caso, acredito tê-lo descoberto em um momento diretamente ligado ao trabalho voluntário, ao cursinho popular Einstein Floripa e à Brasil Cursinhos.

Estava eu no Encontro Nacional de Cursinhos Populares (ENCUP) de 2017, em São Paulo, quando após um painel com as fundadoras do Ensina Brasil e do Vetor Brasil facilitado pela ensina Sofia Fernandes, tive um “momento eureka”. Caiu a ficha de que não queria ser advogado para o resto da vida e que meu propósito estava mais ligado à área social e política.

Existem “n” organizações que propiciam trabalho voluntário e você certamente se sentirá atraído por aquelas que se aproximam de alguma forma do seu propósito – mesmo que tal propósito não seja inteiramente conhecido no momento. Em meu caso, o Movimento Universitário de Cursinhos (MUC) fez com que pouco a pouco o propósito ficasse mais claro.

Como diz Simon Sinek, o primeiro passo de uma ideia bem-sucedida está em seu propósito, em seu “porquê”. Você não depende diretamente do trabalho voluntário para sustentar-se no curto prazo, provavelmente está lá por livre e espontânea vontade; significa que quer estar lá; significa que provavelmente o que faz o aproxima de seu propósito.

 

4) O time/gente boa/loucos como você

 

Loucoo, louco louco louco louco, sou da FEJESC!

Ao fazer parte de um time, você sente que está contribuindo para uma causa maior, para a conquista de um objetivo em conjunto. Poderia fazer várias elaborações filosóficas e sociológicas sobre o fato de que somos seres sociais, porém a noção intuitiva de estar cercado de pessoas com o mesmo objetivo e um propósito alinhado é mais que suficiente para os fins deste artigo.

A frase acima vem do final do grito de guerra da Federação de Empresas Juniores de Santa Catarina, da qual pude fazer parte há alguns anos. Esse tipo de coisa marca, faz surgir um sentimento de saudade quando é lembrada.

Frequentemente, ao virar noites resolvendo todo tipo de questão e triunfar ao final de uma gestão ou diante do objetivo alcançado, você percebe que está próximo de muita gente boa e que essas pessoas serão referências positivas para o resto da vida. Se você fosse uma empresa, teria de lutar para manter próxima essa “gente boa”, porém sendo uma pessoa, pode ter a certeza de que os “slots” para grandes contatos são infinitos e dependendo do caso, duradouros.

Esse aspecto, em específico, não tem preço e pode surgir mais facilmente no trabalho voluntário do que em outros territórios.

 

5) Ser parte da solução

 

Enquanto alguns os vêem como loucos, nós vemos gênios. Porque as pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são as que, de fato, mudam. – Steve Jobs

Você já deve ter visto algum comercial da Polishop e certamente ficou surpreso com a inventividade de algum produto. Frequentemente os lançamentos são comercializados com exclusividade e a preços razoavelmente altos. Caso a patente das funcionalidades fosse “liberada” e os concorrentes passassem a produzi-las, certamente o preço cairia e o uso dos produtos seria mais difundido.

O que quero dizer com isso? Que certos problemas, quando solucionados, geram valor e isso é explorado comercialmente de maneira brilhante pela Polishop – mas e quanto aos problemas da educação brasileira? da saúde? da desigualdade social?

Não seria interessante se alguém os resolvesse e que isso não fosse feito com interesses comerciais? Eis o gap no qual inúmeras organizações de trabalho voluntário se encaixam; elas trabalham visando ser parte da solução destes problemas grandiosos e com potencial de melhorar a qualidade de vida de todos – caso resolvidos.

Você não gostaria de ser parte da solução? Não gostaria de ser lembrado posteriormente como uma das pessoas que foi parte da solução? E não seria legal estar numa posição de quem fez isso na posição de voluntário?!

 

6) O MUC e a educação no Brasil

 

Se você está lendo este texto e chegou até aqui, provavelmente já ouviu falar do Movimento Universitário de Cursinhos (MUC). A princípio seu objetivo era inverter o paradoxo da educação no Brasil, explicado pelo Profº Marcelo Knobel, da UNICAMP, nos seguintes termos:

De acordo com Knobel, dos quase 500 mil jovens que concluem o ensino médio anualmente no Estado de São Paulo, aproximadamente 85% estudaram em escolas públicas e 15% em instituições privadas.

Já do total de estudantes que prestam vestibular para as principais universidades públicas do país a situação se inverte: na Unicamp, por exemplo, aproximadamente 70% são egressos de escolas privadas e 30% de instituições públicas.

Percebemos, contudo, que atuar somente motivados por modificar a composição do público que ingressa no ensino superior não iria, por si, resolver os problemas da educação brasileira – era necessário atuar nos que já estavam inseridos no “sistema”; surgiu a ideia de duplo impacto. Ela nos inspira e acreditamos que também inspirará você!

Ao multiplicar o número de cursinhos universitários populares (CUPs) pelo país, inúmeras pessoas que sequer poderiam sonhar em ingressar no ensino superior público e de qualidade, conseguem fazê-lo. Por outro lado centenas de jovens que já frequentam a universidade, ao gerir os CUPs, passam a conhecer de perto a realidade da educação no Brasil e levarão esse conhecimento consigo por toda a vida.

Estes jovens, ao ocuparem posições de destaque no futuro, poderão tomar, com conhecimento de causa, as medidas necessárias para reduzir e ao final resolver os problemas de nosso sistema educacional.

 

7) Quero melhorar o mundo a educação no Brasil! comofas?

 

Existem várias maneiras e não estamos aqui para apontar uma única que seja “a certa”; aprendemos constantemente com outros projetos, inclusive muitos dos citados acima, porém estamos construindo um sonho, uma entidade que une os CUPs e concretiza o ideal do duplo impacto – trata-se da Brasil Cursinhos (BC).

Tomei conhecimento da BC pouco depois de sua fundação e passei a fazer parte da organização efetivamente  na gestão de 2018. Desde então, muitas das ideias de futuro que eu possuía vêm se modificando e tenho aprendido coisas das quais sequer poderia suspeitar antes.

Como dito anteriormente, trata-se de um trabalho voluntário atrelado à ideia de learn by doing, aprender fazendo. Sugeriria fortemente que caso você, leitor, tenha a oportunidade de integrar a BC ou um CUP, que a agarrasse com unhas e dentes – ainda, caso não haja algum CUP próximo de você, adianto que a experiência de fundar um seria sensacional e com certeza valeria a pena.

Na Brasil Cursinhos, em específico, formamos um time com pessoas dos mais variados lugares do país selecionadas por um processo seletivo criterioso. Sinto-me parte de um time constituído inteiramente de gente boa tanto em capacidades quanto em virtudes, pessoas com quem se pode aprender muito e que estão abertas a novos aprendizados.

 

8) Afinal de contas, filho, o que você ganha com isso?

 

Em resposta à minha mãe, diria que ganho a inspiração e a capacidade para mudar o mundo, mas sendo realista, isso soa muito sonhador, não é mesmo? E sonhos (com exceção dos da padaria) não costumam “encher barriga”.

Diria então que (i) enfrento problemas reais e aprendo a resolvê-los, (ii) atuo ajudando os outros, seja buscando preencher um vazio interno, seja desinteressadamente, (iii) aproximo-me do meu propósito, de conhecer a atuação que me fará feliz, (iv) conhecerei gente boa – amigos e contatos que estarão prontos a auxiliar-me para o resto da vida em quaisquer projetos e (v) serei parte da solução de problemas dos quais a maioria somente reclama.

 

Para encerrar, diria que todas as atuações como voluntário até hoje trouxeram-me um retorno inesperado. Pessoas que conheci através dos projetos x, y e z tornaram-se clientes quando virei advogado; frequentemente amigos feitos nestas iniciativas entram em contato para oferecer oportunidades e é sempre possível compartilhar novas ideias e sonhos com pessoas conhecidas durante a jornada.

 

O depoimento acima é do jovem advogado, louco e apaixonado por transformação Victor Rorato, Coordenador Administrativo da Brasil Cursinhos na gestão nacional de 2018! Quer trabalhar com ele e mais um monte de gente boa? Dê uma olhada na oportunidade aqui!

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