“Muitas pessoas precisam somente de uma oportunidade para conseguir seus objetivos”

Douglas Medeiros Pessoa, na FEA-USP, em 2018

 

“Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu”, cunhou o escritor e educador mineiro Rubem Alves (1933-2014). 

Na Brasilândia, o 4º distrito mais populoso de São Paulo/SP, é bem possível que grande parte dos moradores desse lugar, o qual é frequentemente associado à violência e à pobreza pelo sensacionalismo dos vespertinos jornalísticos da TV aberta, ainda não conheçam a vida de outro jeito.

Douglas Medeiros Pessoa, o Doug, nasceu e cresceu nessa que é a região mais habitada da zona norte da maior metrópole do país.

E como em milhões de casos, a educação adentrou em sua vida como um feixe de esperança, por dias melhores, por sonhos carregados de brio. 

 

“Sempre pensei em fazer universidade, de preferência pública, estudei minha vida inteira em escolas do governo e sabia que somente aquilo não era suficiente para conseguir. Comecei a trabalhar na adolescência para ajuntar um dinheiro, passei um tempo fazendo isso e foi lá que de fato decidi que iria fazer uma faculdade de ponta”. 

 

Se na década de 1980 a Brasilândia ficou conhecida pela gravação do notório filme “Eles não usam Black Tie”, a partir dos anos 2000, dada a ascensão econômica de classes antes mais vulneráveis, foi possível perceber como há vida para além do sofrimento ou da angústia desse povo, que se transformara em espetáculo para os demais extratos sociais. 

A mídia, outrora antagônica, àquela altura começou a projetar imagens de alegria, contentamento e prosperidade popular, em seus telejornais, séries e especiais ambientados no distrito. 

Os homicídios, roubos e perseguições policiais cederam espaço à Negra Li, aos MCs (do Rap ao Funk), ao comércio, às escolas, aos hospitais, e à futura estação de metrô, que ligará diretamente o distrito ao centro da capital paulista. 

Doug, com o dinheiro que juntou, tendo a ajuda de seus pais, conseguiu fazer cursinho. E viu no Cursinho Popular da POLI USP uma oportunidade, uma porta de entrada para a vida que ele e tantos outros ainda não conheciam. 

 

“Sempre gostei de educação e penso nela como uma grande ferramenta de empoderamento social. Minha maior motivação para entrar no CP foi pelo próprio time que era composto. Gostava muito da equipe que me ajudou a entrar na universidade, retribuir com aquilo que me ajudaram e também ajudar as pessoas a conquistarem seus sonhos. E é por isso que eu gosto tanto de lá, pra mim é um projeto de vida poder retribuir ao CP, aquilo que me foi ofertado”.

 

Dizem os astrólogos que, os leoninos, assim como Doug, são benevolentes, cintilantes. 

Antes de entrar no cursinho, o jovem, nascido em 12 de agosto de 1993, era um clássico vestibulando, apenas estudava. 

Sua dedicação promoveu uma literal mudança em sua vida: da Brasilândia, na zona norte, para a Cidade Universitária, na zona oeste, quando seu nome constava na lista de aprovados da FUVEST. 

A graduação era em Engenharia de Computação, pela Escola Politécnica da USP.  

Além disso, com o passar do tempo, Douglas também chegara a participar de outros grupos de extensão, mas, com o tempo, priorizou o Cursinho Popular da POLI USP. 

 

“Participar de um cursinho popular foi um grande desafio uma vez que tinha a responsabilidade de fazer algo por pessoas que precisavam de uma única oportunidade. Dentro do projeto eu já fui tudo, desde plantonista de matemática até diretor geral da instituição, em 2017, tendo a responsabilidade de representar o CP externamente, além de liderar o time de coordenação. Entrei no CP em 2015, e sairei no final deste ano (2020). Hoje, sou plantonista”.

 

Douglas (sentado, à esquerda) junto com os futuros universitários, em 2017.

 

Entre 2015 e os dias atuais, Doug largou as aulas de sistemas operacionais, mecânica dos sólidos e física geral, entre outros, oferecidos na grade curricular de Engenharia de Computação, mantendo-se, ainda, simpático aos cálculos. 

Decidiu ingressar no curso de Ciências Contábeis da Faculdade de Economia, Administração e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP), o qual ainda está cursando. 

Atualmente, o paulistano faz parte do Núcleo de Empreendedorismo da USP, tendo no currículo algumas participações por projetos voltados para causas sociais, como consultoria para ONGs, educação de negócios para empreendedores sociais e afins.

“Num futuro próximo quero estagiar em finanças (se alguém se interessar, chama no PV hein rs)”.

Apesar da mudança acadêmica, Doug se manteve fiel ao Cursinho Popular da POLI USP. Foi lá que descobriu uma nova vida, antes desconhecida ao então infante da Brasilândia. 

 

“Todo ano fico emocionado quando vejo o pessoal conseguindo seus objetivos e sempre sou daqueles que cai na festa. Todo ano tomo um banho de tinta com o pessoal. Participar do CP sempre me faz lembrar das minha origens e também como posso ajudar a criar um ambiente melhor, sendo este um dos meus objetivos de vida. Então, estar lá faz muito sentido pra mim. Foi lá que fiz amizades, passei por vários perrengues (saudades de processos seletivos) e amadureci quanto pessoal e profissional”.

 

Douglas (de camiseta azul, ao centro) com os recém-aprovados para a universidade, em 2017.

 

Se a educação mudou significativamente a vida de Douglas, ele, enquanto membro de um cursinho popular, também ressalta que, além do nítido papel dessas organizações, a perseverança, com a qual chegou à USP, é a mesma que proporciona resultados expressivos na vida de jovens que visam o Ensino Superior.

 

 “Particularmente, não gosto muito do papo de falar que eu fiz a diferença na vida de alguém. No limite, dei as ferramentas, mas o aluno ou aluna que se esforçaram, pegando busão todo dia para chegar na aula, estudar, fazer a lição. Participar de um cursinho popular pode ser uma grande experiência de empatia com o próximo, mostrando que você pode fazer algo para uma pessoa, além de entender seus problemas e mostrar que muitas pessoas batalham na vida para conseguir seus objetivos”.

 

E, certamente, o Cursinho Popular da POLI USP é capítulo já demarcado na biografia de Douglas.

Ele, sobretudo, deseja que sua história seja repetida, em especial, na trajetória de outros moradores da Brasilândia, esse lugar cujo nome já é carregado de Brasil em si.

 

“Na minha mente eu levo o pensamento que pequenas ações podem fazer a diferença na vida de alguém e que muitas pessoas precisam somente de uma oportunidade para conseguir seus objetivos. E no coração fica um sentimento de saudade e felicidade por saber que muita gente já passou por lá e, que num futuro próximo, irão se formar e melhorar de vida. Gosto de pensar no impacto que um curso superior pode fazer na vida e na comunidade dessas pessoas, bem como em inspirar tantas outras dos seus bairros a fazer faculdade pública, o que é um direito delas. Penso que vou levar o CP no coração pra sempre. Quero que o projeto siga por muito tempo”.

 

Por fim, esse uspiano, plantonista de cursinho popular, empreendedor social, consultor de ONGs, futuro estagiário da área de finanças, e cria da Brasilândia, descreve essa importante página de sua vida.

 

“Participar de um cursinho popular é muito diferente de um comercial. É importante você entender isso para aproveitar ao máximo as aulas e criar laços com seus amigos. Se pudesse, faria tudo de novo com certeza. É uma ótima oportunidade e tem muita gente que dá seu máximo para fazer o melhor pela galera, não é sobre números de aprovações que um cursinho popular se pauta, isso faz muita diferença na experiência de um aluno durante o ano de cursinho”.

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