Humans of Cursinhos: Marcus Agrela, professor do MedEnsina (USP)

medensina cup aluno humans of cursinhos universitarios populares

E hoje, o considerado Dia Mundial da Educação, é também momento de ler mais uma história de como a educação transforma!

Nosso entrevistado é um cara muito querido no cursinho universitário popular MedEnsina (FMUSP/SP).

Marcus Agrela é estudante de medicina da USP e, embora esteja no último ano do curso, consegue conciliar os cansativos estágios com o trabalho voluntário como professor de português no MedEnsina. Notável amante da literatura, o Marcus conversou com a gente sobre sua experiência neste CUP.

 

Agrela, me diz uma coisa: no meio de tantas extensões universitárias na FMUSP, por que você foi parar justamente no MedEnsina?

Eu fiz uma escola estadual. No cenário perverso da educação pública de base, além da insuficiência – e às vezes ausência total – de conteúdo, eu não tinha dimensão do que era necessário para acessar o ensino superior. Senti muito o peso da defasagem na formação e na informação.

Quando entrei na Faculdade, me encontrei no MedEnsina por entrar em contato com pessoas que foram vitimadas por esse mesmo sistema. Então, a minha ideia era tentar ao máximo compartilhar algum conhecimento acumulado nos anos de cursinho com quem mais precisava. Conhecer o contexto da educação pública me impulsionou a fazer isso com mais vontade.

 

 

Entendi. E, na condição de professor, como você lida quando vê, no cursinho, gente com história tão parecida com a sua? Tem alguma identificação?

Eu tenho uma sensação que é mais de admiração e respeito do que de identificação. Mesmo tendo sido egresso de uma escola estadual com várias deficiências, reconheço que tive privilégios muito grandes. Pude fazer cursinho, com bolsa, sem trabalhar, com o apoio de minha família.

Marcus em meio a antigos alunos do cursinho

As pessoas com quem entrei e entro em contato no MedEnsina têm realidades e histórias com muito mais percalços. E, mesmo assim resistem, nos acolhem com extrema gentileza, são dedicados. Aprendo muito com as histórias de vida e a resiliência de cada um ali.

 

E tem algum momento no MedEnsina que te surpreendeu?

São muitos os momentos, poderia falar por horas. Vou citar um recente.

Nesse ano, eu combinei com os alunos de reservar alguns minutos ao final da aula para que alguém leia um texto em voz alta. Há algumas semanas, uma aluna que se reconhece como uma pessoa tímida pediu para ler um texto de temática feminista (cuja autoria era de Jade Fanny, do Slam Resistência). E o fez brilhantemente, sem precisar ler (tinha o texto inteiro na memória). Fiquei emocionado e muito grato por ter presenciado aquilo.

 

 

Cara, que demais! Uma curiosidade, então: como você acha que os alunos poderiam encarar as leituras obrigatórias dos vestibulares sem tanto o peso da “obrigatoriedade”?

Esse é um grande desafio para mim, desde o início.

Eu entrei para o quadro de professores do MedEnsina para criar uma frente dedicada única e exclusivamente à análise de leituras obrigatórias. Pode parecer bizarro, mas não gosto da ideia de leituras obrigatórias. Precisamente porque é pouco provável que um aluno encontre prazer em uma atividade compulsória.

Então, eu sempre busquei alguns métodos para neutralizar o fator compulsório e incentivar a leitura por prazer. O principal era criar um link da obra com a História e a Sociologia. Faz toda a diferença, por exemplo, na análise de Memórias de um Sargento de Milícias, saber da história do Brasil e da vida privada à época da vinda da Coroa Portuguesa ao Brasil.

Então, inserindo esses “links” da obra com outros campos do conhecimento e também com outras obras, acabo despertando maior curiosidade e prazer na leitura.

 

 

Pra finalizar, tem uma pergunta que não pode faltar.

O que você quer ser quando crescer?

Eu ainda tenho muito a aprender para me sentir minimamente “preparado”, mas acho que estou chegando perto disso, felizmente.

Ainda não estou certo quanto ao futuro. Tenho pensado em seguir na área de Medicina de Família e Comunidade ou em Geriatria, mas há algumas outras possibilidades menores que às vezes entram em alta.

Mas essa é só uma parte da minha vida “crescida”. Tenho planos de continuar participando de (ou eventualmente criar?) alguma iniciativa de ensino popular fora da faculdade. Vontade não falta.

 

Curtiu essa história? Essa já é nossa sexta entrevista da série Humans of Cursinhos! Veja as entrevistas das semanas passadas, com William Nunes, voluntário do Einstein Floripa, e com Flávia Regina, aluna do Galt Vestibulares (Brasília)!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *