Humans of Cursinhos: Bárbara Roberta do cursinho CASD Vestibulares

Dessa vez, a entrevista da série Humans of Cursinhos é com alguém que conhece bem de perto as diferentes formas de se envolver com um Cursinho Universitário Popular! Bárbara, ex-aluna do CASD Vestibulares, hoje atua no mesmo cursinho como professora de redação – e faz algunas cositas más.

Bárbara Roberta, de 26 anos, é ex-aluna do CASD Vestibulares e, graduada em Letras pela UNIFESP, voltou pro mesmo cursinho como professora de redação. Em São José dos Campos, Bárbara atua também na rede particular e, tendo sua casa do ladinho da sede do CASD, ela passa muito tempo lá trabalhando duro pra que os alunos sintam-se em casa e possam sonhar e conquistar como ela mesma fez.

 

Bárbara, em 2008 e 2009, você foi aluna do CASD. O que você, como aluna, recebeu nas salas de aula do CASD que não tinha recebido em outras salas de aula antes?

Bárbara: Conhecer o CASD foi uma das melhores realizações que já alcancei até hoje. Como sempre estudei em escola pública (quero abandonar o clichê, mas a realidade, muitas vezes, é de desinteresse), não consegui obter um ensino de qualidade e, consequentemente, o sonho de cursar um ensino superior de qualidade estava ficando cada vez mais inatingível. Entretanto, uma colega de sala explicou um pouco sobre um cursinho popular que poderia me auxiliar. Então, em 2007, tive o meu primeiro contato com o CASD. Participei de todo o processo seletivo e consegui ser aprovada.

Fiz dois anos de cursinho (2008 e 2009), e no primeiro ano eu estava terminando o Ensino Médio; foi nesse momento que o contraste entre as duas realidades ficou plenamente evidente. Na escola pública, eu precisava lidar com o desinteresse de alguns colegas, que em muitos momentos atrapalhavam as explicações dos professores, e com a falta de um corpo docente completo (eu não tive aulas completas de química e física, por exemplo). Mas, quando eu chegava na sede do CASD, a situação era totalmente diferente, pois os alunos sempre estavam interessados e os professores faziam de tudo para dar a melhor aula da vida deles.

Era muito gratificante saber que muitos estavam ali para ajudar na conquista do meu sonho e isso me motivava, uma vez que eu não tinha coragem de desistir da conquista da vaga no vestibular, sabendo que havia pessoas que se esforçavam por mim e que acreditavam em meu potencialComo um ser social que depende do olhar e da aprovação do outro, passei a acreditar que eu realmente conseguiria passar no vestibular. E hoje sou muito grata a todos que não me deixaram desistir.

 

E além de não desistir, você estendeu o sonho, né? Você tá ligada ao CASD Vestibulares há 10 anos; foi aluna, é professora e dá até uma mãozinha pra galera de Recursos Humanos. O que te fez voltar, incansável assim, depois da graduação?

Bárbara: Quando eu estava no cursinho, confesso que em muitos momentos pensei que eu não tinha o perfil para ingressar em uma universidade pública de qualidade. Era muito difícil acreditar na ideia de que uma menina, sem base adequada nos estudos, que era de uma família sem recursos financeiros, e que iria concorrer a uma vaga com pessoas, teoricamente, bem preparadas, passaria no vestibular. Além disso, eu seria a primeira integrante da família a terminar o ensino médio e ingressar no ensino superior.

Diante de tantos problemas, a minha angústia era provar para mim mesma que eu era capaz de superar todas as barreiras e todos os estereótipos. E foi no CASD que eu ganhei força: havia muitas pessoas na mesma situação, e ter contato com outras histórias me fez perceber que, sim, seria possível fazer uma graduação. Ademais, o clima de família existente no Curso me fazia reabastecer as minhas forças e me auxiliava, pois eu sabia que não estava sozinha. Foi por ter uma família no CASD que eu decidi voltar!

Por que isso me motivou tanto? Porque quero que outros alunos percebam que, quando há um sonho e esforços, tudo é possível! Quero auxiliar na conquista da vaga no vestibular! Quero estar presente quando um aluno estiver chorando por falta de apoio em casa! Quero provar para ele que as lágrimas poderão se transformar em grandes e duradouros sorrisos! Quero, muitas vezes, que eles enxerguem que passei por muitos obstáculos e que eu só cheguei onde estou hoje porque tive ajuda e porque não desisti.

 

E como foi exatamente essa volta depois de alguns anos, agora como professora? Foi estranho ver os bastidores do que você tinha visto antes, como aluna?

Professores, funcionários e membros do cursinho CASD
Bárbara com os funcionários, professores e membros do CASD

Bárbara: Voltar como professora foi uma realização, até porque quando passei no curso de Letras prometi para mim mesma que a minha história com o CASD teria um belo reencontro. Retornei como professora de reforço e trabalhava com discussão de temas de redação. Depois de um ano, assumi a frente de Redação e acabei me aproximando muito do corpo administrativo.

Nesse envolvimento, tive ainda mais orgulho de ser parte dessa família, pois percebi que tínhamos muitos problemas e que nem sempre era fácil estar ali para dar aula. Muitas vezes quando vemos um professor todo empolgado dando aula, achamos que ele é um super-herói e que ele não tem problemas. Senti na pele que esse pensamento é muito equivocado, porque também somos seres humanos e também temos limitações, físicas e emocionais.

 

Você tem experiências trabalhando num cursinho particular de renome e doando seu tempo ao CASD. Como essas experiências são diferentes? Existe algo que só o trabalho no CASD traz pra você?

Bárbara: Sou apaixonada pela educação. Desde pequena, com cinco anos, eu já sabia que queria ser professora, e hoje entendo que essa escolha sempre se pautou na vontade de querer ajudar o próximo, dando a ele a oportunidade de ter acesso ao maravilhoso mundo do conhecimento. A diferença que tenho hoje nos meus dois ambientes de trabalho refere-se às perspectivas dos alunos.

No CASD, tenho sempre que reforçar que os alunos são capazes, para que eles passem a acreditar no próprio potencial, e preciso me dedicar um pouco mais a eles, até porque a maioria não teve uma base acadêmica. Além disso, no CASD atuo com o sentimento de gratidão, pois só alcancei um nível profissional que eu sempre sonhei porque tive uma oportunidade. Porque acreditaram em mim.

 

Nessa luta pra ensinar, o que você aprende trabalhando no CASD?

Bárbara: Ao trabalhar no CASD, aprendo a cada dia que a união faz a força, porque não existe um clima de competição, muito pelo contrário; os alunos se unem para estudar e se juntam para enfrentar os problemas. Aprendo, diariamente, que não posso desistir diante dos problemas, pois há pessoas, em situações mais difíceis que a minha, que erguem a cabeça e seguem em frente. Aprendo a me relacionar com as pessoas e a entender que cada indivíduo é único e que merece ser tratado com respeito e amor. Por fim, aprendo a me conhecer como ser humano: aceito as minhas limitações, reconheço os meus erros e luto para encontrar novos sonhos e objetivos.

 

Você acaba lidando com alunos do cursinho além da sala de aula?

Bárbara: No CASD, acabo me envolvendo com situações que vão muito além da sala de aula. Muitas vezes, alguns alunos me procuram para relatar problemas financeiros, familiares, emocionais ou psicológicos, e ao relatar os problemas eles querem, apenas, receber uma palavra de conforto e um abraço amigo. Sempre acreditei que a relação professor-aluno não precisaria obrigatoriamente ser apenas movida pelo conhecimento acadêmico, pois antes de assumirmos papéis sociais (ser professor ou ser aluno) somos seres humanos e necessitamos do apoio e da atenção do outro.

 

Então você lida com alunos no seu cotidiano, até além da sala de aula, e tem sua própria experiência pra falar sobre o que um aluno de cursinho universitário popular (CUP) sente nesse ambiente – mas e os pais? Você chega a conhecer famílias de alguns alunos?

Bárbara: Não conheço muitas famílias, até porque lido com muitos alunos, mas em nossa última reunião de pais, surpreendi-me muito com o que presenciei. Os responsáveis que estavam no encontro queriam entender como ajudar os filhos e o que eles poderiam fazer para amenizar os sofrimentos que surgem no ano de vestibular. Eu nunca tinha visto tantas pessoas unidas para sonharem junto com os filhos e que se sentiam gratas pelo auxílio dado pelo CASD. Em alguns momentos me arrepiei ouvindo o relato de alguns pais e senti que, como professora, não estou sozinha nesta luta.

Além disso, muitos pais se surpreendem ao notar que muitos professores e membros do CASD têm quase a mesma idade que os filhos. Neste momento, eles nos exaltam ainda mais, pois afirmam que num mundo com tantas possibilidades, optamos por nos doar ao próximo. Sempre que vejo uma reação como essa, sinto que preciso batalhar ainda mais, pois assim novas pessoas darão prosseguimento a um trabalho tão virtuoso e gratificante.

 

Quanto o CASD te ajudou a chegar onde você está hoje? Quanto você rala pelo CASD? E você rala tanto porque quer que o CASD esteja onde?

Alunos do cursinho CASD visitando a UNICAMP
Bárbara acompanhando alunos do CASD em visita à UNICAMP

Bárbara: Sempre afirmo que a minha mudança de vida, tanto financeira quanto social, teve como fator primordial a oportunidade que conquistei por meio do CASD. Se não fosse pelas excelentes aulas e pelos professores amplamente capacitados, eu não teria passado no vestibular. E muito mais do que conseguir o emprego dos sonhos, eu não teria tido a oportunidade de conhecer um mundo que até então não era para mim.

Ao conhecer histórias de colegas, aprendi a entender o outro e a me disponibilizar para o que for preciso. Além disso, tive a prova de que família não se constitui, apenas, por laços de sangue, mas também por amizades e por companheirismos. E são com esses conceitos que espero que o CASD consiga impactar mais vidas e a mobilizar mais sonhos, pois esse trabalho precisa continuar; muitas vezes, somos o único recurso para o aluno e, por isso, precisamos crescer  e expandir nosso trabalho, para que mais membros da família retornem para mudar a situação da educação no Brasil. Quero, por fim,  que mais pessoas consigam sentir o amor que eu sinto pelo CASD, pois este sentimento é capaz de mudar o mundo!

 

Dentro do próprio CASD Vestibulares, os professores assistem às aulas uns dos outros e conversam sempre pra melhorar o ensino do time como um todo. Além disso, ano passado, você esteve presente no Encontro Nacional de Cursinhos Universitários Populares que organizamos, o ENCUP (que logo vem aí de novo!). Qual o valor que você vê nesses diálogos e nessa partilha de conhecimento e boas práticas? Como isso foi uma ferramenta pra que você melhorasse ou pra que você ajudasse outros a serem melhores?

Bárbara: Percebo que cada professor ou cursinho atua de uma maneira própria que evidencia as suas características. Mas, sempre quis conhecer o que o meu colega ou o que um cursinho faz diferente. É por isso que acho válido e importante o contato com outras possibilidades. Eu, por exemplo, gosto de assistir às aulas de meus colegas para entender o que posso aprimorar nas minhas abordagens, e acho importante que alguém também assista às minhas aulas, pois nem sempre é possível identificar falhas próprias.

Com relação ao ENCUP, achei a iniciativa essencial, pois o que falhava no CASD poderia ser solucionado com uma prática que já tinha sido testada em outro cursinho que deu certo. Essa vivência com outras realidades aprimora os objetivos e os anseios, além de proporcionar uma rede que se ajuda e se sustenta nas dificuldades do dia a dia.

 

Muda a gestão, mudam os alunos, e a Bárbara tá ali, firme e forte. Sua relação com o CASD é muito fofa! Você diz abertamente que ama o lugar e as pessoas que fazem o CASD ser o que é. Imagino que seja uma via de mão dupla, né? Como todo esse sentimento volta para você?

Bárbara: Não posso negar que sou extremamente bem acolhida no CASD. Quando vejo o reconhecimento da equipe e dos alunos sinto-me muito agradecida e certa de que tudo o que eu fiz até hoje valeu a pena. Muitas vezes fui para a sede apenas para ter contato com pessoas que me fazem bem; para receber um abraço apertado de um aluno quando eu não estava bem; para pedir conselhos aos meus amigos – membros e professores.

Mas nada se compara com as aprovações nos vestibulares. Sempre que as listas com os convocados são liberadas, passo dias chorando, pois os alunos agradecem tão profundamente que é difícil segurar a emoção. Como professora e como uma pessoa que anseia por um mundo com mais oportunidades, não há sentimento mais gratificante do que ver o seu aluno conquistando um sonho que parecia impossível.

 

Pra finalizar, depois de toda essa jornada, o que você diria para um aluno do CASD, aprovado no vestibular, pra convencer ele a voltar como voluntário?

Aula inaugural do cursinho CASD - 2017
Aula inaugural do CASD em 2017 – Bárbara (na frente, à esquerda) com alunos, membros e professores

Bárbara: Preciso confessar uma coisa: a grande maioria já diz nos bastidores que pretende voltar após o ingresso na universidade. Sempre ouço conversas em que os alunos afirmam que também querem ser responsáveis pela conquista do sonho do outro.

Acho que o CASD conseguiu, mesmo que sem esse objetivo, criar uma atmosfera de ajuda mútua, em que eu posso sonhar sozinho, mas posso sonhar ainda mais se eu estiver inserido em um grupo que luta nas mesmas batalhas, até porque: Um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade

 

 

Curtiu essa história? Essa já é nossa terceira entrevista da série Humans of Cursinhos! Veja as entrevistas das semanas passadas, com Caio Kazuo, diretor de ensino do Galt Vestibulares, e com Edgar Leal, ex-aluno do MedEnsina!

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *