Humans of Cursinhos: Thiago Linhares, professor do Einsten Floripa

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Continuando com histórias inspiradoras de professores, o entrevistado de hoje é Thiago Linhares, que divide seu tempo entre as aulas de matemática que dá no Einstein Floripa e o curso de engenharia mecânica na UFSC.


Thiago, você participou como entrevistador no último processo seletivo de alunos. Tem alguma história marcante que te vêm em mente?

Bom teve uma história, várias histórias digamos de cunho pessoal né, mas uma que me encantou foi o fato que durante a entrevista com uma pessoa, eu perguntei qual era o maior orgulho dela e ela me falou que o maior orgulho dela foi ter se formado no ensino médio.

Isso me despertou uma inquietação muito grande porque, às vezes, a gente entra num nível de cobrança ou de exigência com nós mesmos que a gente não se dá conta de qual é a verdadeira realidade do Brasil.

Isso me deixou de certa forma incomodado porque aquilo que pra mim ou pra qualquer outra pessoa possa parecer tão natural, pra outros é extremamente significante.

Quando acabou a entrevista eu ainda falei pra ela “pô que legal, ainda bem que você tem orgulho disso e você tem que ter mesmo” porque às vezes a entre entra num looping de cobrança que nunca estamos satisfeitos, sempre se cobrando, e eu não lembro a ultima vez que agradeci por ter terminado o ensino médio. Isso pra mim foi sempre muito natural, enquanto que pras outras pessoas é super relevante, e tem que ser mesmo.

O que você acha que é algo que ninguém espera e que te faz refletir com frequência?

Bom, no primeiro momento que eu tive a oportunidade de trabalhar como professor,  foi a primeira vez na vida que eu fiz uma atividade que eu senti a sensação de que eu não posso nunca mais parar de fazer isso.

Eu pisei naquele tablado e pensei “cara, eu não consigo mais parar de fazer isso, é um caminho sem volta”. Pela primeira vez, eu tive o sentimento de realização, de propósito. Eu cheguei onde eu não sabia que poderia estar. E foi extremamente natural porque isso gera um conforto tão grande em mim que, sendo bem honesto, eu até tenho medo de largar tudo e transformar isso na minha profissão.

Pra mim, é como se fosse um hobbie, uma música, um teatro, a pessoa que gosta de cantar, de dançar e eu não gostaria de transformar isso no peso da minha profissão, eu gostaria realmente de continuar executando as atividades e de alguma forma poder contribuir dando aula em qualquer outro segmento. E hoje eu me sinto um profissional bem melhor porque eu tenho a oportunidade de dar aula, de trabalhar com educação. Hoje eu me sinto um filho bem melhor porque eu tenho essa oportunidade, um namorado bem melhor, um amigo bem melhor, e isso é maravilhoso.

E você chegou a essas conclusões como?

Bom, não sei. O que eu sei é que eu nunca tinha tido a oportunidade de ter uma relação tão próximas com as pessoas, eu sou acostumado com números, com laboratório, sou acostumado com ambiente controlado, com tudo certinho, padronizado. Pela primeira vez no Einstein eu não tive controle das coisas, e isso era maravilhoso.

Eu não sabia o que podia acontecer no dia seguinte, eu não sabia se os alunos poderiam desistir,  pela primeira vez eu ouvi as pessoas falando  “nossa cara, que legal, eu escolhi a minha profissão com base no que você falou, ou aquilo que você falou me deixou muito satisfeito.”. Isso gerava um sentimento que eu nunca tinha sentido antes, eu não tenho como transformar isso em números, e pela primeira vez, eu que gosto tanto de números e de medição, me peguei percebendo que tudo isso é extremamente aleatória e que a gente não consegue transformar isso em um número.

O que você pretende fazer quando se formar e sair do Einstein?

A verdade é a seguinte, se eu pudesse responder essa pergunta voltando um pouquinho (claro). Quando eu olho para boa parte dos alunos ali, quando eu olho pra toda aquela realidade, a verdade é que todas as vezes que eu falo que eu me emociono é porque eu me identifico com todos eles, ou com pelo menos boa parte deles. A minha realidade é muito próxima da deles, eu vim de uma história de vida que durante as entrevistas eu percebo que a minha realidade é muito próxima daquela. E o que me incomodava, que me incomoda muito ainda é que a única diferença que eu percebo é que toda a estrutura familiar que infelizmente muitos não tem, eu tive, e isso me deu muita base pra eu poder chegar a determinados lugares que hoje me faz sentir muito grato.

E quando a gente olha pra isso, o fato de eu ter escolhido engenharia, o fato de eu ter vindo pra cá [Florianópolis], ter saído de uma escola pública do Rio de Janeiro, isso me dá certas condições que me faz olhar pra trás e pensar “caramba, eu sou ponto fora da curva”. Mas eu não gostaria de ser ponto fora da curva, de verdade, eu gostaria de colocar esse pontos [na curva] e não só uma ou duas ou três pessoas que se destacaram. Isso sempre me incomodou muito porque acaba que dentro de uma gama muito grande você seleciona um ou outro que acabam se destacando. Eu gostaria muito que as oportunidades fossem homogêneas.

Mas respondendo a sua pergunta, eu gostaria de de continuar a fazer o que eu faço, a única diferença é que eu vou ser engenheiro.

Gostou da entrevista? Confira também a edição da semana passada, dessa vez com Marcus Agrela, professor do MedEnsina, cursinho universitário popular da Faculdade de Medicina da USP.

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