Desafios enfrentados por jovens que engravidam durante os estudos

A maternidade na adolescência está presente na realidade brasileira e é uma das causas de evasão escolar. Uma pesquisa de 2018, divulgada no Cenário da Infância e Adolescência no Brasil deste ano pela Fundação Abrinq, aponta que 15,5% de nascidos vivos do Brasil foram de mulheres de zero a 19 anos. O retorno ao ensino fundamental, médio ou superior é desafiador o que levam muitas jovens a abandonar os estudos devido à maternidade.

O papel da escola nesse processo é muito importante, prestar suporte e acompanhar a jovem durante e após a gravidez pode fazer com que ela continue se desenvolvendo mesmo afastada. Debater sobre o assunto na rede de ensino pode também auxiliar na criação de um plano pedagógico para evitar a evasão escolar.

A instituição de ensino deveria ter uma preparação de como lidar com as necessidades da jovem grávida. Flexibilizar os estudos, amparar os sonhos acadêmicos e fazer adaptações para suas necessidades físicas, são algumas mudanças que podem ser feitas para que a aluna se sinta mais acolhida.

Inspirados pelo Dia das Mães, conversamos com Tatiana Tauil, ela engravidou no seu último ano de faculdade e compartilhou sua história e os desafios que enfrentou para conseguir concluir sua graduação. Em seu Trabalho de Conclusão de Curso, ela tratou sobre a falta de Políticas Públicas focadas em acolher mães universitárias, o que acaba gerando a evasão.

 

“Prazer, meu nome é Tatiana. Sou aquela mulher que jamais imaginou ser mãe na vida, porém o UNIVERSO tinha um propósito beeem maior para mim. E, ainda bem que ele colocou o Miguel no meu caminho!! Ele me transformou como mulher, filha, sobrinha, irmã, neta, amiga, enfim. Ele mudou a minha percepção das coisas, e me muda todos os dias. Afinal, todo dia é um aprendizado novo ao lado dele. Eu cursei Administração de Empresas e engravidei no último ano da faculdade, meu sonho era ter uma graduação e poder assim conseguir uma carreira profissional mais sucedida do que meu histórico familiar, meus pais e tios tiveram mal mal o ensino médio completo, sempre acreditei na educação como forma de mudança de vida.”

 

Quais desafios você enfrentou na universidade por continuar estudando durante a gravidez?

Saía da sala de aula sempre para fazer xixi e vomitar…meus professores compreenderam a minha situação, alguns deles estavam sendo pais na mesma época, lembro que teve uma professora que me deu um vale massagem de presente, outros me levaram para tomar café/chocolate e espairecer, tinha dias que eu ficava muito nervosa com toda a situação.

Eu tive problemas com apenas uma professora, que na época era substituta e não tinha sido mãe, ela me mandava exercícios fora do padrão que dava em sala eu sabia disso porque perguntava aos alunos que tinham aulas presenciais com ela. Mesmo fazendo todos ela me passou com a nota mínima necessária, o que depois prejudicou meu coeficiente geral. 

Lembro-me que na mesma época em que descobri a gravidez perdi as bolsas de auxílio da universidade e não consegui renová-las, precisei mudar para mais perto da faculdade, antes eu morava em Ouro Preto e fui para Mariana.

O maior desafio foi lidar com meu emocional, o sentimento que eu não iria dar conta de formar antes de ganhar meu filho me consumiu. Acabou que perdi duas matérias no período e precisei ficar mais um período para fazê-las, sem contar o TCC (Trabalho de Conclusão do Curso). 

 

Você recebeu algum apoio da universidade durante a gravidez?

Dei entrada no RETEF, uma lei que permite a estudante grávida dar continuidade nos estudos com acompanhamento em casa. Poderia escrever um livro sobre os detalhes dessa lei, mas meu tcc foi sobre, então se querem entender melhor sugiro que leiam ele. A resposta demorou tanto para sair, cada hora o departamento responsável pela avaliação pedia algo à mais. Quando enfim foi deferido já estava no meio do período, mas meus direitos foram assegurados. 

No meu caso o único apoio da universidade foi cumprir a lei que permite continuar os estudos de casa, nem a bolsa que eu já tinha de auxílio permanência mantiveram.

 

Como conseguiu superar os desafios da gravidez e concluir a graduação?

Eu decidi fazer o TCC depois do Miguel nascer que faria com mais calma com o pai dele me ajudando a criar.

Foi quando eu achei que o pior já havia passado o destino me deu uma rasteira, o pai do meu filho termina comigo na semana dele nascer…Foram dias difíceis, tive depressão pós parto, por algumas vezes achei que iria morrer, em outras eu tinha certeza. Meu puerpério foi intensificado de tal forma, que eu não conseguia mais estudar e pensar no meu TCC. Decidi trancar a faculdade. Vi o pai do meu filho se formar sem nenhum empecilho e continuar a vida normal. 

O primeiro ano do Miguel fiquei a maior parte trancada em casa fiquei perdida, sem rumo, sem chão. Eu me achava burra, não conseguia render nos estudos como antes de ser mãe.

E com os limões que a vida me deu fiz uma baita de uma caipirinha! Pesquisando vi que as mulheres que se tornam mães no contexto acadêmico não eram devidamente assistidas, foi daí que surgiu o tema do meu TCC. Observação: o primeiro já estava praticamente pronto, eu joguei o trabalho todo de lado para fazer o que eu queria falar: sobre mães que decidem continuar os estudos após a maternidade. O que me trouxe de volta a vontade de continuar os estudos, afinal eu tinha uma causa em que lutava e ainda luto! 

Acredito que só consegui superar os desafio e formar por conta de todas as pessoas que entraram no meu caminho e não me deixaram cair, aprendi a ver cada um com singularidade e reclamar menos quando as coisas não saem como planejamos. Deixo meu enorme agradecimento à todos eles que nunca desistiram de mim, nem mesmo quando eu já tinha desistido!

Ah, no tempo que fiquei em casa aprendi muito sobre marketing digital e acabei me especializando na área. Hoje, eu tenho um projeto que ajudo mães que querem empreender começando pelas redes sociais.

Sei que uma gravidez no contexto acadêmico nos tornam mulheres alvo, contudo nosso silenciamento precisa ser quebrado. Precisam ser feitas políticas públicas que nos acolham na academia. Mas, não podemos nos esconder atrás das dores, precisamos tratá-las e seguir em frente. Sei que não é simples, com as palavras parece ser, nossa luta é diária! 

 

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