Paulo Freire (CE): “Vamos trabalhando com o possível para aquilo que sempre acreditamos: a democratização do ensino”

Organização cearense privilegia ações dotadas de proximidade, comunicação e auxílio, valorizando a inclusão, o desenvolvimento e o direito à educação.
Aula inaugural do Curso Pré-Vestibular Paulo Freire neste ano – Foto: Cortesia/CPVPF

 

Chegamos à sexta e última parada desta fase inicial dos #NosCUPs, uma das trilhas de conteúdo da Brasil Cursinhos em 2020, com foco nas inovações promovidas pelos Cursinhos Universitários Populares (CUPs) frente aos desafios impostos pela pandemia do novo Coronavírus. E, dessa vez, estamos em Fortaleza/CE, no Curso Pré-Vestibular Paulo Freire.

Ratificado no Artigo 205 da Constituição Federal de 1988, o direito à Educação é, sobretudo, dever do Estado.

Todavia, o recente impasse em relação à realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) – em especial, à então eventual postergação das datas de aplicação da prova tradicional – suscitou uma série de debates de ordem pública, no que tange aos problemas socioeducacionais do país, dentre os quais o acesso à educação.

Além disso, o cenário atual forjou várias escolas a se adequarem a uma realidade de ensino à distância (EaD) incapaz de atender e suprir as necessidades dos 45,9 milhões de brasileiros que ainda não têm acesso à Internet, segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada no final de abril pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tendo 2018 como ano-base.   

Uma vez que os equipamentos públicos de educação no Brasil são, principalmente nas periferias, espaços multifuncionais, ou seja, desempenham ações que vão além da formação acadêmica, Juan Colonna, professor adjunto no Instituto de Computação da Universidade Federal do Amazonas (IComp/UFAM) expõe, em recente entrevista concedida à Carta Capital, as adversidades enfrentadas pelos estudantes que mais carecem desses espaços. 

“Como professor, acompanho diariamente as dificuldades e esforços que muitos alunos de baixa ou média renda fazem para se manter o máximo de tempo possível dentro da universidade de modo a ter acesso a recursos, como computador, internet de qualidade, livros, ou um ambiente de estudo mais adequado do que em casa”, afirma Colonna.

A ausência de políticas públicas de Estado voltadas à democratização do ensino, alinhada ao vigente e grave quadro de desigualdades sociais do país, tendem a agravar ainda mais o ingresso de jovens no Ensino Superior, gerando o aumento das taxas de evasão, desalento, desemprego e pobreza extrema.

Completando 20 anos de atuação, agora, em 2020, o Curso Pré-Vestibular Paulo Freire está desenvolvendo e adaptando novas estratégias de atendimento aos seus atuais 120 alunos, por meio da conciliação de questões de gestão, ensino, amparo, inclusão, democratização e renda. 

Somam-se aos mais de cem estudantes assistidos pelo Curso pouco mais de 60 colaboradores, dentre membros da administração, docentes, corretores de redação e professores plantonistas.

À luz dos atuais dilemas do país, aprofundados pela pandemia da COVID-19, a BC, no intuito de apresentar e destacar inovações de impacto, inclusão e desenvolvimento coletivo na Educação, entrevistou: Davi Gomes, Presidente; e Felipe Brito, Vice-Presidente, ambos do Curso Pré-Vestibular Paulo Freire.

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Davi Gomes (à esquerda) e Felipe Brito (à direita) – O trabalho conjunto e a comunicação eficaz geraram impacto positivo nas iniciativas do Curso – Foto: Cortesia/CPVPF

 

Como foi acompanhar o avanço do novo coronavírus, mais precisamente em relação às atividades do cursinho?

Em Fortaleza/CE, as atividades da Universidade Federal do Ceará pararam no dia 17 de março. Inicialmente, foram prorrogadas até o dia 31 do mesmo mês, passando por uma outra prorrogação.

Como as atividades do Curso Paulo Freire dependem, em primeira instância, da continuidade das atividades presenciais da UFC, estamos ainda sem prazo para o retorno das aulas.

Os alunos, de maneira geral, aderiram à ideia de aulas não presenciais. Passamos recomendações de isolamento social, bem como de higienização, ambas baseadas nas diretrizes da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde, este último, quando alinhado ao primeiro.

Vocês já tinham em mente alternativas à modalidade presencial?

Hipóteses de aulas online veiculadas pelos professores do curso já foram pensadas, contudo, sem sair do papel. De uma maneira mais abrangente, já tínhamos grupos para enviar materiais feitos pelos professores, e adaptamos a ideia após a chegada da pandemia.

Quais são as estratégias e ferramentas adotadas perante o quadro atual?

As estratégias mais utilizadas são de aulas online com áudio e vídeo, como Google Meet. Alguns professores dão aulas apenas por áudio, pela plataforma do Discord. Outros, em minoria, apenas fazem o envio de slides ou outros tipos de documento por escrito.

 

Reunião de discussão sobre o adiamento do Enem 2020, por meio do Google Meet. Tela: Cortesia/CPVPF

 

Como se deu o processo de criação e implementação dessas iniciativas?

Passamos as recomendações por meio da Diretoria do Ensino, e essas informações foram discutidas com a Direx, e nos grupos de informações gerais do Curso. Retiramos dúvidas, também, nos grupos de cada área, conforme dividimos, em Natureza, Humanas, Linguagens, Matemática e Redação.

Quais pontos levaram em consideração no momento de desenvolvê-las?

Afirmamos que nosso intuito de dar aulas online deveria levar em conta a situação da Internet de alguns estudantes, não olvidando das possíveis limitações existentes. Por isso, aulas que pudessem também ser assistidas offline foram tomadas como direcionamento máximo. Além disso, pedimos para os padrinhos dos alunos, por meio do sistema de apadrinhamento de colaboradores com estudantes do cursinho, que verificassem como estava a situação com cada um.

Como está sendo a receptividade dos alunos, professores e voluntários para com as ações adotadas até aqui?

Os colaboradores estão aderindo às aulas remotas da maneira que podem, através de plataformas diversificadas, dentro dos padrões que pedimos, a exemplo de serem preferíveis às que pudessem ser disponibilizadas a qualquer momento.

Entretanto, a motivação, inegavelmente, encontra-se menor do que àquela verificada com aulas presenciais. O Curso Paulo Freire sempre se orgulhou de ser conhecido como uma verdadeira família, e grande parte disso vem em decorrência do sentimento de acolhimento proporcionado em alguns momentos que, devido à distância atual, não conseguem ser proporcionados.

Apesar disso, vamos trabalhando com o possível para aquilo que sempre acreditamos, isto é, a democratização do ensino. Assim, mesmo num momento inicial, no qual os alunos estavam mais perdidos com relação às medidas que tomaríamos, conseguimos dar um norte maior em momentos posteriores. Ainda temos uma certa dificuldade em encontrar o padrão de organização encontrado nas aulas presenciais, encontrando algumas barreiras nas rotinas dos alunos.

Atualmente, inclusive, temos uma ouvidoria mais específica para este momento vivido, cuja responsabilidade está com a Diretoria de Assistência ao Vestibulando, essencial para o funcionamento do curso.

Como avaliar o desempenho do corpo docente e discente a partir dessas estratégias?

Os professores estão bem atentos à realidade dos alunos, tentando encontrar o equilíbrio entre não deixar os alunos desamparados nesse momento e não passar muitas demandas em um momento tão difícil. Dentro do possível, acreditamos que os professores estão realizando um bom trabalho, bem como os alunos, os quais, dadas algumas limitações, estão com uma receptividade adequada, após um período de adaptação.

Vocês criaram algum programa de tutoria voltado aos alunos?

Temos o sistema de apadrinhamento dos alunos, no qual um colaborador fica responsável por um ou mais padrinhos. O programa já data de anos anteriores ao atual, sendo apenas adaptado para a atual situação.

Quais os resultados conquistados até o momento, em termos de aproveitamento, desempenho e avaliação dos professores, voluntários e alunos para com as ações implementadas?

Os professores estão mantendo uma boa qualidade nas aulas. Entretanto, como é justificável, a participação em porcentagem de colaboradores acaba sendo um pouco menor, já que nem todos conseguem manter o padrão de produtividade, em virtude de barreiras tecnológicas, bem como as dificuldades devido ao maior distanciamento com relação ao sentimento de “sala de aula” proporcionado pelos alunos.

Como a flexibilização do ensino, em situações como a atual, auxilia cursinhos, professores, diretores, alunos e voluntários?

(A flexibilização) auxilia dentro de um cenário onde houve a possibilidade de planejamento para tal, o que não é o caso vivido atualmente. Ela pode ajudar com que mais pessoas consigam colaborar com a educação, bem como para atingir mais pessoas. Mas isso deve ser feito com ferramentas tecnológicas adequadas, dentro de um sistema de maior organização da publicação das aulas, divisão de tarefas, equipe para suporte, e etc.

E como ela (flexibilização) ratifica o direito à educação para todos, principalmente para as camadas mais vulneráveis da sociedade?

Entendemos que as aulas online conseguem, em alguns quesitos, serem mais democráticas que as presenciais, por ter o potencial de alcançar mais pessoas. Contudo, devido à inexperiência no assunto, ainda sendo pegos de surpresa, há uma dificuldade de manter o padrão outrora apresentado no Paulo Freire.

A flexibilização para aulas online podem ser uma solução para a qualidade da educação no país. Entretanto, precisa-se de uma cuidadosa organização e preparação para tanto.

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