Cursinho FEAUSP (SP): “Usar ferramentas acessíveis e que não demandem custos é muito importante”

Instituição paulistana adere à ferramentas práticas e à estratégias de flexibilização de suas atividades pedagógicas, valorizando parcerias, baixo custo e acessibilidade. 
Membros do Cursinho FEAUSP – Aproximação com estudantes e destaque aos feedbacks foram relevantes para o desenvolvimento de novas ações. Foto: Cortesia/Cursinho FEAUSP.

 

O #NosCUPs, primeira trilha de conteúdos da Brasil Cursinhos deste 2020, retorna à capital paulista, agora, no Cursinho FEAUSP

No dia 16 de abril, o governo de São Paulo afirmou que o período letivo para os 3,5 milhões de jovens matriculados na rede estadual paulista recomeçaria a partir do dia 27 do mesmo mês, com aulas ao vivo e vídeoaulas, ainda que para estudantes que não tenham 4G em casa ou no celular.

Entretanto, “(…) soluções tecnológicas que assegurem a continuidade do ensino frequentemente exacerbam as desigualdades”, alega documento da Força-Tarefa Internacional de Professores pela Educação, da UNESCO, divulgado em dezembro do ano passado, mas tendo 2018 como ano de avaliação.

Acrescenta-se a isso o fato de que, no Brasil, a escola costuma ter o ofício de reduzir – ou, em situações negativas – de aprofundar as disparidades sociais que já alcançam patamares elevados. Logo, especialistas em educação receiam que estudantes de redes ou escolas menos estruturadas, particularmente em regiões carentes, acabem ficando para trás ou perdendo motivação em estudar e, futuramente, em retomar as aulas presenciais.

“Naturalmente, o melhor lugar para a criança é na escola. Não vamos agora ter soluções (que seriam ideais) para os tempos normais, mas vamos poder aprender para aperfeiçoar a educação quando voltarmos aos tempos normais”, disse, mês passado, à BBC News Brasil, Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (CEIPE-FGV).

Fundado em 2000, como uma iniciativa dos alunos membros do Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC) da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), o Cursinho FEAUSP é uma instituição sem fins lucrativos voltado para pessoas de baixa renda, sem cobrança de mensalidade.

Contabilizando 60 Coordenadores, 7 áreas, 32 Professores, 12 Plantonistas e 480 alunos atendidos anualmente, seus integrantes estão flexibilizando e assegurando, hoje, o ensino em meio à quarentena, por meio de estratégias dotadas de baixo custo, tecnologia e acessibilidade.    

Pretendendo conhecer as ações implementadas pela instituição, a Brasil Cursinhos entrevistou: Victor Rodrigues de Freitas, Coordenador Pedagógico, graduando em Economia; Camila Puccini, Coordenadora Pedagógica, e Pedro Nishio, Coordenador de Eventos, ambos graduandos em Administração. Todos discentes da FEA-USP.

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Quais são as estratégias e ferramentas adotadas perante o quadro atual, ressaltando os principais pontos que levaram em consideração no momento de desenvolvê-las? 

Ao observar o avanço da doença de dentro da USP, estávamos esperando um posicionamento da FEA. Entretanto, com a evolução da COVID-19, suspendemos as aulas numa quinta-feira e, uma semana depois, a instituição também paralisou.

E, a partir desse cenário, aderimos aos seguintes passos:

– Com a Turma de Sábado (TSA), tivemos uma semana para que o alinhamento estivesse completo, mas com a Turma de Semana (TSE), ainda na primeira etapa de paralisação, não queríamos que os estudantes perdessem o conteúdo e, dessa forma, pedimos orientações de estudo aos professores, as quais foram enviadas pelo grupo de avisos no WhatsApp dos (as) alunos (as).

2º – Após uma reunião de alinhamento, percebemos que nossa prioridade era a de manter uma rotina de aulas para os estudantes e, pensando em manter uma aproximação entre estudantes e professores, optamos pelas aulas à distância.

A princípio, nossa sugestão foi o Google Meet, visando a organização dos discentes. Alguns docentes aceitaram o desafio e, num primeiro momento, usamos esse recurso e o YouTube. Com o passar do tempo, o Meet se tornou nossa plataforma padrão para as aulas online, e muitos professores aderiram à essa ideia. Isso exigiu da gente uma boa comunicação tanto com os estudantes quanto com professores. Como solução, resolvemos criar vários manuais explicando o uso da plataforma nova de aulas à distância e suas respectivas ferramentas.

 

Exemplo de aula via Google Meet – A comunicação entre professores, membros e discentes gerou novas oportunidades de ensino. Tela: Cortesia/Cursinho FEAUSP

 

3º – Queríamos desenvolver duas trilhas distintas: uma, de estudos para os (as) alunos (as); e outra, voltada aos professores, no que tange ao ato de lecionar, agora, de maneira diferente. Então, decidimos usar o Google Drive como uma ferramenta centralizadora de informações, onde também fazemos as separações por matéria e dia de aula. Lá, o professor, antes da aula, deveria colocar os arquivos que usaria para aplicar o conteúdo, e poderia preencher uma ficha de orientação de estudos, a qual o estudante teria acesso, a fim de saber quais módulos da apostila estudar e os exercícios a fazer, bem como os conteúdos extras a serem consultados. Num primeiro momento, era nessa ficha que ele/ela encontraria o link da aula.

O Drive é uma solução àqueles (as) que não têm uma internet tão boa para acompanhar uma aula online. Por meio dele, os (as) alunos (as) podem acessar tanto as fichas de orientação de estudos, como as gravações das aulas dos professores, considerando-se que reforçarmos aos docentes que gravassem e as disponibilizassem no Meet.

4º – Depois de estabelecidas as aulas, tentamos agilizar ao máximo o acesso dos (as) alunos (as) às plataformas parceiras, Descomplica e Plurall, do Anglo, essa principalmente, pois os estudantes teriam acesso às apostilas de forma online – uma vez que não poderiam mais fazê-lo de modo presencial – além usufruírem da oportunidade de realizar simulados nesse sistema.

A parceria com o Anglo foi muito importante mesmo no atual contexto, pois a infraestrutura virtual que a instituição oferecera ao nosso corpo discente solucionou muitos problemas que teríamos neste período de quarentena. 

5º – Após uma semana das novas medidas, era muito importante saber como os (as) alunos (as) estavam se saindo com as novas instruções, e por isso fizemos um formulário para coletar os feedbacks. A partir desse documento obtivemos 76 respostas e vários indicativos de que as aulas online estavam funcionando da maneira certa. Os estudantes com acesso ao Meet gostaram da plataforma, enquanto aqueles (as) que não conseguiam assistir às aulas ao vivo, fizeram-no por meio da gravação no Drive, posteriormente. Nossa comunicação também foi bem avaliada, e as plataformas virtuais estavam sendo usadas, principalmente o Plurall. Desse feedback também conseguimos extrair alguns pontos que precisávamos incrementar.

 

Relatório de dados – Documento de análise qualitativa e quantitativa às ferramentas e à adaptação dos (as) alunos (as). Link de acesso a esse documento consta mais abaixo.

 

6º – Melhoramos nossa comunicação, por perceber que o Drive talvez fosse uma barreira para o acesso às aulas online. Assim, todo dia um (a) coordenador (a) é responsável por enviar o cronograma de aulas no grupo dos professores no WhatsApp, deixando um espaço aberto para eles acrescentarem recados para turma e o link das exposições. Após preenchidas essas informações, encaminhamos uma mensagem para o grupo de avisos da turma nesse mesmo aplicativo, o que acabava facilitando aos estudantes de entrarem na aula, além de aproximá-los (as) à fala dos professores sobre os conteúdos.

Também pensamos na correção de redações à distância e, a partir daí, estabelecemos um modelo em que os (as) alunos (as) enviam e recebem seus textos corrigidos pelas corretoras via e-mail. Do mesmo modo, os estudantes encaminham as redações ao endereço eletrônico do Pedagógico, e assim conseguimos acompanhar a frequência com a qual eles/elas têm feito essas tarefas.

Outra medida foi melhorar o plantão, onde mais de 80% dos discentes não tinha mandado nenhuma dúvida para os plantonistas nesta quarentena e, dessa forma, incluindo-os (as) em nossas medidas, e ouvindo suas sugestões para esse problema, fizemos um plantão no grupo de avisos do Facebook das turmas, onde os (as) alunos (as) podem, nos posts de cada matéria, colocar suas dúvidas e serem respondidos pelos plantonistas.

7º – Toda essa rotina e o cenário de quarentena, bem como algumas respostas dos estudantes aos formulários, fizeram a gente perceber um certo sentimento de aflição e ansiedade em suas rotinas.

Baseando-se em tal premissa, e numa parceria que já temos desde o ano passado com o Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), organizamos rodas de conversa com os (as) alunos (as), nas quais eles/elas podem encontrar espaço de amparo neste período de estresse. Também fizemos um Workshop de Planejamento de Estudos, para que os discentes se organizem com uma professora de gramática muito dedicada às atividades no Cursinho FEAUSP chamada Mariana Marques.

 

Workshop de Planejamento de Estudos – Espaço virtual de acolhimento e ajuda aos discentes em tempos de pandemia. Tela: Cortesia/Cursinho FEAUSP.

 

8º – Por fim, uma das últimas medidas que adotamos foi a de promover uma reunião de professores via Meet, a qual teve a maior índice de adesão que já registramos. Nela, conseguimos conversar sobre os dados desse formulário de alunos (as), ouvimos as sugestões dos professores sobre como eles estavam planejando as aulas e o material e criamos outras ações para melhorar esse sistema.

Vale ressaltar que mesmo tendo estabelecido esse modelo de funcionamento, estamos sempre atentos e abertos para trabalhar com as sugestões dos estudantes, das outras áreas do Cursinho, professores, plantonistas e corretores.

Confira a íntegra dos dados coletados, e o feedback dos alunos para com as estratégias do Cursinho FEAUSP em: https://documentcloud.adobe.com/link/track/?pageNum=6&uri=urn%3Aaaid%3Ascds%3AUS%3A9254bd2b-7b7c-4694-9b10-49daff572cae

 

Vocês criaram algum programa de tutoria voltado aos estudantes do cursinho?

Sim. Há alguns anos nossa coordenação aplicava um projeto de tutoria que aos poucos foi se perdendo. Desde o ano passado retomamos a discussão sobre a importância de criarmos uma relação mais próxima com os (as) nossos (as) alunos (as), para que possamos ajudá-los (as) de maneira mais direta, facilitando a comunicação entre aluno e coordenação. Assim, criamos um projeto piloto no segundo semestre de 2019, que foi baseado em algumas informações sobre o anterior, conversas com o Projeto InformAção, e com um dos responsáveis pela mentoria do Arcadas Vestibulares. Com essa ajuda, conseguimos colocar em prática uma tutoria de 4 meses que atendeu 94 alunos do ano de 2019. 

Para 2020, gostaríamos de implementar nossa tutoria desde o primeiro semestre e, com a necessidade da quarentena, concluímos que ela deve ser implementada o quanto antes.

Nosso projeto pode ser dividido em duas categorias: tutores e tutorados. O grupo dos tutores é composto por coordenadores, ex-coordenadores, plantonistas e ex-alunos do Cursinho FEAUSP. Já o de tutorados é composto exclusivamente de alunos do ano corrente. A tutoria consiste no acompanhamento por parte do tutor de um ou mais tutorados ao longo do projeto, oferecendo apoio em relações que tange o ensino, coordenação e o cotidiano. Neste ano, com nossas duas primeiras turmas de extensivo, pretendemos acompanhar 125 alunos que se inscreveram para o projeto. O número trouxe desafios para a coordenação, porém, significa que nosso impacto será ainda mais extenso e profundo.

Confira a íntegra do Projeto de Tutoria 2020 do Cursino FEAUSP, em:  https://1drv.ms/b/s!AoMpVqtuYscTqwAKvdkz3IS1uEzk

 

Quais dicas vocês recomendam para os demais cursinhos sobre como criar, adaptar e implementar ações de ensino, atendimento e gestão, considerando o atual cenário de pandemia, as questões institucionais e a comunidade pré-universitária? 

– No início da estruturação dessas medidas, a comunicação entre os membros do grupo que vai implementá-las deve ser prezada. É necessário um momento de debate de ideias e sugestões;

– É importante estar aberto para sugestões de melhoria e buscar feedbacks das partes envolvidas no projeto;

– Busca pela simplicidade tecnológica. Estamos lidando com um público que já tem dificuldades com acesso à internet, por isso usar ferramentas acessíveis e que não demandem custos é muito importante;

– Manter a comunicação entre estudantes e voluntários. É um momento delicado, e por isso aproximar os (as) alunos (as) da coordenação pode servir de motivação para as atividades de estudo.

 

Como a flexibilização do ensino auxilia toda a comunidade dos cursinhos populares? E como ela ratifica o direito à educação para todos, principalmente para as camadas mais vulneráveis da sociedade em termos socioeconômicos?

A flexibilização das aulas e atividades da entidade auxiliam na continuidade do Cursinho e desenvolvem tanto coordenadores, quanto professores e alunos a adaptarem-se a uma plataforma diferente da usual em um contexto totalmente impensável até então. 

No entanto, por mais que a internet venha se democratizando ao longo dos anos, alguns alunos (as) nossos (haja vista o nosso público-alvo) não têm acesso completo às plataformas online e isso, infelizmente, é um impeditivo para a democratização do direito à educação no cenário atual. Nossa área de Captação de Recursos tem pensado em alternativas para suprir essa demanda. Porém, devido ao panorama ser completamente novo, é um pouco complicado o desenvolvimento de alguns processos.

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