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Nossa entrevistada de hoje é a Daniele Borges, caloura de Engenharia Química na UNICAMP e ex-aluna do CASD Vestibulares, cursinho universitário popular organizado pelos alunos do ITA. Conversando com a gente, a Dani falou sobre motivação, persistência, da família de amigos que formou dentro do CASD e contou um pouco da sua história e de como chegou até a faculdade.
Dani, você comentou sobre o quanto o CASD foi importante pra você, tanto academicamente quanto com relação à motivação, amizades, etc. Mas se não fosse o CASD, onde você imagina que estaria hoje? Teria chegado onde chegou?
Jamais chegaria onde cheguei! Antes do CASD, com meus 14 anos, eu queria muito passar no colégio da Embraer, porém não tinha conseguido passar no Casdinho e por mais que eu pedisse aos meus pais para pagarem um cursinho preparatório (apesar de nunca gostar da ideia de atrapalhar eles financeiramente), o dinheiro faltava para isso. Diante dessa situação, comecei a estudar em casa com uma amiga minha; nós usávamos as apostilas de um amigo dela que já tinha passado.
Entretanto, por mais que você se esforce em aprender, estudar sozinho não é fácil! Às vezes você estuda um conteúdo que pouco cai e não sabe, às vezes você e sua amiga estão terrivelmente cansadas e não tem quem te dê apoio pra continuar ou que te auxilie nos estudos (plantões, reforços). Dessa forma o estudo acabou mal planejado e pouco motivado… logo, não conseguimos.
Depois dessa decepção eu percebi que precisava de ajuda, então comecei a estudar para o Vestibulinho do CASD. Lembro até hoje o que eu pensava: “se você quer chegar até o topo, deve passar por uma escada antes”.
Sem o CASD, não conseguiria chegar onde cheguei. Eu estudei mais que tudo na vida, e isso aconteceu com todo o apoio e auxílio de todos. Sem esse apoio, eu teria desistido; foi cada agonia que passei, cada desespero; eu vivia perdida em como organizar os meus estudos, mas sempre tinha alguém do meu lado na mesma situação, diversos membros do CASD que me ajudaram a superar esse desafio.
Se tivesse estudado em casa, sozinha, eu estaria saturada antes de conseguir a nota que precisava pra passar. Ano passado (2016), eu estava cheguei a me sentir saturada mas já tinha alcançado a meta, meu sonho, no último suspiro. Sem a chance de viver esse sonho eu estaria trabalhando em algo que não gosto, ou estudando em qualquer lugar para não ficar parada.
Apesar de todo o apoio recebido, você pensou em desistir em algum momento? Por quê?
Sim, várias vezes. Primeiramente, sentia que não conseguiria atingir a nota necessária;, o meu esforço parecia em vão. Ademais, é desconfortável você depender dos seus pais para tudo, sempre quis ajudá-los e não atrapalhá-los, porém como eu queria um curso e uma faculdade muito específica, trabalhar só atrapalharia mais a situação.
Tinha medo de que não atingisse meu objetivo e ficasse lamentando para vida toda. Então, apesar de possuir a vontade de ajudar, meu medo de não dar conta e cansar de todo estudo antes do momento em que que adquirisse a nota mínima para passar era maior. Me sentia egoísta, assim pensava em desistir, mas o medo era maior.
Além disso, o CASD tem um clima especial, mostrando que sempre há pessoas que estão numa situação mais delicada do que a sua. São tantas histórias que ouvi… Isso fazia com que eu me tocasse: eu tinha todo o apoio do mundo, eu preciso conseguir! Não posso ficar reclamando da vida e desistindo por nada.
Você fala do CASD como algo maravilhoso que aconteceu na sua vida, mas o que mais te motivou a estudar e querer estar numa faculdade de excelência? Apesar de ter passado em outras faculdades, você continuou no cursinho até chegar onde queria, na Unicamp – da onde veio essa ideia?
Ver a mim mesma como uma pessoa capaz de atingir objetivos e ter orgulho disso, além de sentir o orgulho dos meus pais, é claro, são alguns dos motivos. Queria fazer algo grande, algo que poucos da minha família e amigos se arriscaram a fazer… ainda não concluí esse sonho, mas parte dele se concluiu no momento que passei no vestibular.
Parte de mim quer ser independente e aprender mais com a vida, podendo fazer aquilo que me agrada mais. Por isso estudei e estudo tanto.
Continuei no cursinho, apesar de já ter passado na Unifesp e UTFPR, porque sempre sonhei com faculdades das mais concorridas e mais bem estruturadas.
Portanto, queria me sentir satisfeita para o lugar que eu fosse e receber um ensino de primeira, ser uma das mais bem qualificadas engenheiras químicas que pudesse ser. Então meu sonho era entrar ou na Unicamp ou na Poli-USP, e no fim escolhi Unicamp porque para o curso de engenharia química ela é muito reconhecida, além da imagem e grade dela me agradar mais.
Você disse que o bom do CASD é que todos querem a mesma coisa, todos pensam da mesma forma. Isso acontece entre os alunos ou com os voluntários também? Você sentia que a sua conquista também era uma conquista para eles?
O CASD não é como ensino médio de escola pública em que 90% dos alunos vão porque tem que ir e pronto. Nele, muitos já tem em mente o que querem fazer, ou mesmo que não tenha certeza, querem passar em uma faculdade. Há um propósito, além de curiosidade de aprender mais a matéria da sua área; assim o ensino flui, todos estão lá para aprender e ninguém vai te obrigar a ficar lá.
É legal ficar num lugar em que as pessoas a sua volta estão na mesma situação, possuem os mesmos medos, e isso não dá a sensação de que você está sozinho. Não posso dizer que todos pensam da mesma forma, mas os objetivos são parecidos, tanto dos alunos quanto dos voluntários.
É incrível ver a dedicação que os voluntários tem para que tudo funcione e no fim as metas sejam alcançadas. No dia dos aprovados dá para perceber que cada pessoa que passa é uma conquista para o CASD, a felicidade dos voluntários é evidente, já que eles se tornam responsáveis pela vitória de diversos sonhos.
Tendo visto o mundo dos cursinhos populares com o olhar de aluna, mas agora sendo uma universitária, você enxerga de outra maneira? O que você consegue enxergar lá dentro hoje que você não conseguia como aluna? É mais fácil entender o impacto que isso tem na vida dos universitários, e como é importante para eles estarem lá?
Eu achava que o cursinho era apenas para passar no vestibular, mas me nivelou a fim de que eu conseguisse acompanhar a faculdade; sem o cursinho eu não acompanharia as matérias que estou tendo hoje. Sempre acho o vestibular desumano, mas eu precisava daquelas aulas para que tudo ocorresse bem aqui. Nós passamos por problemas para que nos tornemos mais fortes. Logo, o CASD foi o meu trampolim.
Ademais, faculdade para mim era um lugar onde eu teria mais tempo para estudar as matérias mais detalhadamente, além de poder curtir um pouco; hoje eu vejo que não é bem assim, quem faz o tempo somos nós, a correria só tende a aumentar e as responsabilidades também.
É incrível ver diversos universitários que encaram o problema com tanta tranquilidade e conseguem se desdobrar para fazer tudo. No cursinho para mim o problema era o tempo, hoje eu vejo que foi a forma que eu o utilizei que foi errada.
Logo, apesar da correria, aqueles que saem de cursinhos populares sabem da importância de estar na faculdade e que a ajuda é de extrema importância, ou seja, nós saímos do CASD já sendo reflexo das nossas atitudes futuras, pois o CASD impactou a forma como ajo e minha vontade de fazer algo a mais apesar das dificuldades.
Por fim, você pensa em voltar como voluntária? O que te motiva a isso, além da gratidão? Que impacto você acha que o voluntariado num Cursinho Universitário Popular pode ter na trajetória acadêmica de um aluno universitário, ex-aluno ou não?
Sim, pois eu entendi a diferença que faz você receber ajuda e o impacto que isso gera nas pessoas no futuro.
Além do cursinho popular me nivelar nas matérias, eu acho que ele me incentiva a ajudar a todos que estão a minha volta e a correr atrás das oportunidades apesar dos problemas. Quero que as pessoas ganhem o apoio, a coragem, a determinação e força para correr atrás dos sonhos assim como eu ganhei no CASD.
E quando você entra na faculdade, diversas oportunidades aparecem, mas basta você possuir alguma dessas características para poder acompanhar e aproveitar tudo ao seu máximo e fazer a diferença, assim como os voluntários que eu conheci (os quais passam ou já passaram por vestibular e faculdade e me inspiraram).