Humans of Cursinhos: entrevista com Edgar Leal, ex-aluno do MedEnsina

Por acreditarmos que histórias precisam ser contadas, desenvolvemos nosso Humans of Cursinhos (ou HofC, como gostamos de chamar carinhosamente).

Nossa primeira entrevista é com o jovem Edgar Ribeiro Leal, 22 anos, ex-aluno do Cursinho Universitário Popular MedEnsina, gerido por alunos voluntários da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em São Paulo/SP. Atualmente, Edgar é aluno do 3o ano no curso de medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

Edgar, conta para gente: como você descobriu o MedEnsina?

Edgar: bem, Pablo, eu conheci o MedEnsina, através de pesquisa na internet. Como eu não tinha condições de pagar um cursinho particular, minha tia sugeriu que eu procurasse um cursinho popular mesmo. De todos, o MedEnsina foi o que mais chamou a atenção. Confesso também que, entre todos os que prestei, eu estava mesmo interessado no resultado do MedEnsina. Eu estava encantado com a ideia de mudar para São Paulo e estudar num cursinho dentro da FMUSP, ministrado pelos próprios alunos da faculdade.

Edgar, como era a sua rotina na época do MedEnsina? Você precisou trabalhar?

Edgar: como sou do Guarujá, no litoral de São Paulo, eu precisei contar com a ajuda de familiares e amigos para me manter na capital. Fiquei na casa de parentes e amigos. Foi graças a essas pessoas que eu não precisei trabalhar.

Quanto ao meu dia-a-dia, eu costumava acordar umas 8h30, começava a estudar às 9h seguindo um cronograma de matérias que eu mesmo tinha preparado. Esse cronograma estava de acordo com as aulas da semana. Eu só parava para almoçar ao meio-dia e logo depois voltava a estudar, até às 16h, quando eu pegava condução para o MedEnsina.

No Med, a aula mesmo começava às 18h45. Então, antes disso, eu ficava lendo algum editorial e matérias da Folha. Quando não, eu fazia alguns exercícios ou ia para as aulas de reforço e plantões de dúvida do cursinho. As aulas iam até às 23h. Depois disso, eu ia para casa. Chegava lá meia-noite. A partir daí, era só jantar e dormir.

Horário (início)Atividade
8:30Café da manhã
9:00Estudo
12:00Almoço
13:00Estudo
16:00Transporte público
17:20Leitura e exercícios
18:00Reforço ou plantão
18:45Aulas regulares
23:00Retorno para casa

E a relação com a família, como que ficou nessa época?

Edgar: meus pais e familiares sempre me deram apoio. Nunca me cobraram que contribuísse com a renda, apesar da necessidade disso.

Eu voltava para o Guarujá 1 vez ao mês, e a volta para São Paulo sempre foi muito difícil emocionalmente falando. Mas, com o apoio dos meus pais, irmãos, minha tia, enfim, todos, eu consegui ir até o fim do cursinho sem nenhuma falta! (risos)

Eu ia perguntar se, em algum momento, você pensou em desistir, mas acho que isso é quase uma pergunta retórica. Afinal, é comum sentirmos isso na época do cursinho. Então, pergunto: como você lidou com os momentos de “bad”, em que tudo parecia não dar certo? Há algum episódio do tipo que te marcou?

 

O jovem e seu amor pelo surf

Edgar: a vontade de desistir sempre caminhou ao lado da ambição de ser aprovado. Então, sempre que me descuidava, ela entrava em cena. Minha cabeça ficava um grande turbilhão, e o que me ajudava a voltar à realidade eram sempre duas coisas:

  1. Minha família, que eu tinha medo de desapontar depois de tanto esforço e apoio para me manter na luta; e
  2. A vontade de ser médico. Eu sempre parava e pensava nas possibilidades caso eu desistisse da medicina, mas nada que surgia era tão forte quanto a vontade de vestir o jaleco e atender os pacientes que estariam esperando por mim, no futuro.

Durante esses anos de cursinho, eu tive outras oportunidades, de desistir de tudo e fazer cursos como engenharia química ou biomedicina, todos de graça, mas nada disso fazia meu coração bater mais forte, entende?

Foi no ensino médio que eu decidi que queria ser médico. A partir daí, eu nunca consegui me imaginar em outra profissão e, se fosse para mudar de ideia, eu não faria curso nenhum, e ficaria só surfando, mas não era isso que eu queria para minha vida.

Eu queria ser útil aos meus familiares, amigos e muitas outras pessoas, mas também queria ser feliz. Poder me tornar médico era o que mais me excitava e me dava uma felicidade grande por antecipação (risos).

Olha, no primeiro ano de vestibular, após atrasar 2 meses de mensalidade num cursinho particular, houve um dia em que não me deixaram entrar na sala de aula. Foi um dia triste para mim, porque foi numa época em que eu estava realmente me dedicando, diferente do que aconteceu no primeiro semestre, nesse mesmo cursinho. Depois daquele dia, eu ganhei mais forças ainda para seguir na luta.

E que força, hein! Edgar, você considera que o MedEnsina acrescentou na sua vida para além do conteúdo teórico? Você sente que mudou com a experiência do cursinho universitário?

Edgar: Pablo, o MedEnsina acrescentou muito na minha vida, sim, principalmente pelos amigos que consegui, tanto aqueles sentados do meu lado, na luta contra o vestibular, quanto os que estavam dando aula. Aliás, até hoje tenho contato com muitos professores que se tornaram grandes amigos.

Eles podem não saber, mas cada um deles tinha alguma mensagem especial para nos dar sobre a vida. Eu acho que, por serem estudantes e estarem tão próximos da gente, todos os integrantes – professores, plantonistas e secretária – nos entendiam melhor do que qualquer outro professor de ensino médio ou cursinho.

Todos que faziam o MedEnsina acontecer estavam abrindo mão de estudar para a graduação, descansar, sair ou fazer qualquer coisa conveniente a cada um. Estavam todos lá, de segunda à sexta à noite, alguns todos os dias, inclusive aos finais de semana. E tudo isso era com o objetivo único de contribuir para a realização do sonho de muitos cidadãos. Para mim, são grandes exemplos que levarei por toda a vida.

Eu sinto que mudei sim, principalmente quando penso em altruísmo e empatia. Hoje, eu sou uma pessoa diferente, menos egoísta, menos competitiva e muito mais altruísta.

Cara, sensacional! E você pensa em devolver, de alguma forma, o que recebeu do MedEnsina?

Edgar: Pablo, eu penso em devolver sim, e já tentei duas vezes, mas infelizmente não foi possível. Eu sou uma pessoa um tanto tímida, e falar em público acaba comigo.

Eu tentei por duas vezes entrar para o cursinho popular da minha universidade [CUJA-Unifesp]. No primeiro ano, eu realizei a prova de seleção, mas, na data da aula teste, eu me ausentei, pois não queria me expor por causa da ansiedade que me causaria; é um sentimento extremamente incômodo.

No segundo ano, eu tentei de novo, fiz prova de seleção e, dessa vez, tive coragem de comparecer à aula  teste. Porém, foi um verdadeiro desastre! Eu fiquei muito nervoso, e a aula foi realmente muito ruim. Depois eu recebi um feedback dos coordenadores dizendo que eu havia ido muito bem na prova, mas que a minha aula não tinha sido satisfatória, e não deu certo de novo.

Desde então, eu decidi não me candidatar mais, com receio de, mais uma vez, não ser aprovado e me frustrar de novo. No momento, eu não tenho nada de projeto voluntário em mente, mas, até o sexto ano, com certeza eu entrarei em algum.

Edgar, que mensagem você deixaria para as pessoas que ainda estão no cursinho?

Edgar: eu diria: eu sei muito bem o que cada um de vocês está passando neste momento, pois eu estive nessa situação por três anos. Quando eu estava no cursinho e ouvia discurso de aprovado dizendo “não desista”, eu logo pensava: “ah, estando aí é muito fácil falar isso, né?”. Pois é, falar é fácil mesmo. No entanto, essa fala está carregada de todos os sentimentos e lembranças, boas e ruins, que tenho da época de vestibulando, e, sinceramente pessoal, eu faria tudo de novo, se precisasse.

Então, se esse for realmente o curso dos seus sonhos, persista, não desista!

Eu sei que muitos têm dificuldade de estudar, seja por condição financeira, dificuldade de aprender determinados conteúdos, por fatores emocionais que envolvem a família, etc. Mas, pessoal, como dizia o grande Pessoa “tudo vale a pena se a alma não é pequena”!

Eu sei que cada um de nós tem uma grande alma, capaz de enfrentar quaisquer adversidades para se atingir um sonho. Vocês são capazes e, se for para desistir de alguma coisa, que não seja da sua felicidade.

Boa sorte!

E para o MedEnsina, o que você diria para os alunos e voluntários?

Edgar: aos alunos, eu diria: sigam firme! Vocês estão no melhor cursinho pré-vestibular do país. Vocês têm uma boa estrutura, com bons professores, plantonistas e secretária. Usufruam o máximo que puderem.

Façam o seu cronograma e, caso tenham dúvidas, nunca deixem de ir ao plantões, que estão sempre cheios de voluntários dispostos a auxiliá-los.

Sigam as dicas dos professores e mantenham-se sempre atualizados.

Por fim, na hora do vestibular, lembrem-se que muitos alunos do MedEnsina já sentaram na cadeira em que você está hoje, e esses alunos estão formados ou se formando no curso que prestaram. Eles eram como você, assim como eu também sou.

Não deixem  nada os abalar, porque, se você se preparou, é só fazer como nos simulados.

Na hora da prova, com você estará um pouco de cada professor e colega. Por isso, fique calmo, pois você não estará sozinho.

Aos voluntários, eu diria: hoje, como universitário, eu vejo o quão difícil é conciliar as atividades da faculdade, estudos, vida pessoal, etc. A cada ano que passa, o tempo fica mais escasso, mas vocês estão sempre aí, auxiliando e contribuindo com os alunos.

Esse comportamento altruísta é algo do qual todos vocês deveriam se orgulhar, e eu tenho certeza que todos que fazem parte do Medensina serão ótimos profissionais, seja lá o que decidirem fazer da vida. Estão fazendo um bem tremendo à sociedade. Meus parabéns!

Para finalizar, uma pergunta mais difícil. Dê a sua melhor resposta, okay?! Vamos lá: o que você quer ser quando “crescer”?

Edgar: quando eu crescer, quero ser um cidadão e profissional de bem, uma pessoa humanizada que saiba compreender as diferenças e singularidades de cada ser humano com quem terei contato. É isso o que eu quero ser.

Um comentário sobre “Humans of Cursinhos: entrevista com Edgar Leal, ex-aluno do MedEnsina

  1. Meu amigo de infância, hoje doutor Edgar Leal, Bradoque. Um orgulho pro bairro do Perequê no Guarujá. Fui pesquisar seu nome no Google pra ver o que apareceria e aqui estou eu. Agradeço ao MedEnsina por terem ajudado a formar este excelente médico, que virou médico particular da minha família, somos vip rs. O melhor médico que já conheci é meu amigo, me sinto privilegiado, abençoado. Forte abraço.

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